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Arte Portuguesa - X
S/ título, de Luís Nobre. Aguarela, acrílico e tinta da china s/ papel, 2009. Coleção Privada. Expo Visitante Ocasional, 2023-2024, Centro de Arte Contemporânea de Coimbra.
De modo geral, um blogue pode ser definido como um lugar virtual oferecido gratuitamente a qualquer internauta no inédito espaço da autopublicação. Da leitura de O Livro de Bolso do Weblogue, de Rebecca Blood, é fácil perceber com que linhas se cose um blogue: página da internet regularmente atualizada, que contém textos organizados de forma cronológica, com conteúdos diversos (diário pessoal, comentários, discussão sobre um determinado tema, etc.) e que na maioria dos casos contém hiperligações (links) para outras páginas. Os textos dos blogues pioneiros eram quase totalmente preenchidos por hiperligações, e daí resultava uma comunidade, bem como o incentivo para cativar publicidade paga.
Direcionado para os desenhadores profissionais de páginas eletrónicas, o livro Como Escrever para a Web, de G. McGovern, R. Norton e C. O'Dowd, regista conselhos para prender a atenção do leitor no ecrã da rede mundial. São eles: parágrafos curtos, títulos eficazes, utilização de subtítulos, dircurso direto e frases simples. Uma boa receita também para os blogues.
Portanto, um lugar autoral na rede é uma oportunidade para a escrita - a modalidade de realização da língua que recorre a um suporte gráfico e exige uma adequação discursiva que tenha em conta o facto de o destinatário estar ausente no tempo e no espaço.
Quando surge um novo meio de comunicação, ocorre a situação defendida por Marshall McLuhan: «o meio é a mensagem». A ideia central do formato do meio de comunicação torna-se crucial para influenciar o conteúdo e o significado da mensagem. Uma notícia transmitida, por exemplo, na televisão tem um impacto diferente de uma notícia lida num jornal, devido à estética e à forma como cada meio constrói e acolhe a informação. Ora, quando um novo suporte surge, essa novidade opõe-se a um recurso comunicacional anterior.
Todavia, pelo que se tem visto, o uso progressivo e massivo do novo suporte traz de volta os moldes do tratamento e do discurso tradicional. Veja-se o caso do e-mail. A perplexidade inicial quanto ao modelo a usar será normalizada e ajustada a um tom convencional, próximo do epistolar, pela necessidade de clareza da mensagem (Merda! Sou legível).
Imagine-se, agora, o que terá ocorrido com o aparecimento da escrita. Surgiu em oposição a quê? Qual o teor da escrita primordial, seria legislativa, matemática ou literatura? A resposta a estes problemas talvez esteja registada na própria experiência individual, isto é, na forma como o sujeito singular - de todos os tempos e ao longo da vida - absorveu essas ferramentas sociais. O utilizador faria um exercício de memória e o observador externo anotaria os denominadores comuns dos grupos para a sistematização científica. Que tal?